Decisão referendada pela Aneel engrossa a lista de empreendimentos ultraeltrointensivos com planos travados por limitações na infraestrutura elétrica do país
RIO — O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) voltou a barrar o acesso de um projeto de hidrogênio verde à rede elétrica.
Desta vez, a negativa atinge a espanhola Solatio, que pretendia conectar uma planta de produção de hidrogênio e amônia verdes com capacidade de 3 gigawatts (GW) por ano na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba, no Piauí.
A decisão foi seguida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e engrossa a lista de empreendimentos ultraeltrointensivos com planos travados por limitações na infraestrutura elétrica do país.
Segundo o ONS, a conexão do projeto causaria sobrecarga estrutural e riscos concretos de colapso de tensão em subestações adjacentes, agravando uma situação já crítica pela ausência de reforços previstos no curto prazo no Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (POTEE).
O parecer técnico desfavorável repete os argumentos utilizados recentemente para negar acesso à rede a outras iniciativas ambiciosas no setor de hidrogênio verde, como os projetos da Casa dos Ventos, no Porto do Pecém (CE), que incluem uma planta de hidrogênio e um data center.
Projetos bilionários sem conexão
Com investimento estimado em R$ 27 bilhões, o projeto da Solatio se junta a uma lista crescente de empreendimentos bilionários com cronogramas ameaçados por gargalos no sistema elétrico.
Segundo os últimos dados divulgados pelo o próprio Ministério de Minas e Energia (MME), haviam onze projetos com pedidos formais de acesso ao Sistema Interligado Nacional (SIN), somando 45 GW de capacidade instalada até 2038.
A Casa dos Ventos, por exemplo, pretende investir R$ 49 bilhões na usina de hidrogênio e mais R$ 50 bilhões em um centro de processamento de dados.
A empresa chegou a contratar consultorias independentes que apontaram a disponibilidade de pelo menos 2 GW na região do Pecém, mas ainda assim foi surpreendida pela negativa do operador.
Outro caso emblemático é o da Fortescue, que espera produzir hidrogênio verde em larga escala também no Pecém, com previsão de R$ 17,5 bilhões em investimentos e capacidade inicial de 1,2 GW, podendo chegar a 2,1 GW, que também teve um pedido de acesso à rede indeferido.
No Brasil, plantas em estados como Ceará (Casa dos Ventos, Fortescue e Voltalia), Piauí (Solatio), Pernambuco (European Energy) e Minas Gerais (Atlas Agro) tinham a expectativa de chegar à decisão final de investimento (FID) até o fim de 2025
Contudo, o avanço dos projetos esbarra na negativa do acesso à rede.
Situação preocupa setor
A Associação Brasileira do Hidrogênio Verde (Abihv) e a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica) encaminharam carta ao MME, em fevereiro, solicitando a antecipação do POTEE, que depende de estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
